"Estou muito ansioso para que o Brasil anuncie o que pretende fazer como esforço para desviar suas emissões da tendência de crescimento", afirmou o holandês Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas. "Espero que seja possível finalizar um pacote e um número antes de Copenhague", disse ele em Barcelona, onde acontece a última reunião preparatória para a conferência.
Nesta semana, o governo sinalizou que pode não apresentar um compromisso de redução para a conferência. Um "número factível", disse Lula anteontem em Londres, seria negociado com outros grandes emissores em Copenhague.
Questionado pela Folha sobre a posição brasileira, De Boer pediu uma "indicação clara". Falou que o esforço de redução dos gases tem que "ser quantificado em um total". E completou: "O Brasil já tem uma estratégia nacional de mudança climática em andamento, e grande parte dessa estratégia já pode ser quantificada".
O chefe da delegação brasileira em Barcelona, Luiz Alberto Figueiredo Machado, disse que não comentaria a declaração do principal diplomata da ONU para questões climáticas.
A cobrança ocorreu dois dias depois de o Brasil ter frustrado o movimento ambientalista ao deixar de anunciar uma meta ao término de uma reunião ministerial sobre o tema.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vinha tentando convencer o governo a anunciar uma meta de desvio de trajetória de emissões que ficasse entre 30% e 40% até 2020. Isso significa não uma redução absoluta, mas um corte em relação àquilo que seria a tendência caso nada fosse feito.
Ele encontra oposição dentro do governo. A visão do Itamaraty é a de que colocar um número na mesa sem que mais países o façam fragilizaria o País na negociação.
Até agora, o único consenso que existe no governo é em reduzir o desmatamento na Amazônia em 80% até 2020 - o que cumpriria metade da meta de 40% proposta por Minc. Já há estudos feitos sobre como atingir os outros 20% sem afetar o crescimento do país, mas mesmo assim o governo se divide.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que chefiará a delegação brasileira, quer que o Brasil declare objetivos, mas sem números (sem compromisso com resultados).
"O Brasil tem de trazer para Copenhague um número. E esse número deve ficar por volta de 40% do desvio", afirmou Paulo Adário, do Greepeace.
Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e professor da Coppe-URFJ, diz que o Brasil precisa "chutar a bola" para que haja avanço em Copenhague. "Eu disse ao Lula que o Brasil precisa ousar, seguir o exemplo do que fez em Honduras [ao conceder asilo em sua embaixada ao presidente deposto Manuel Zelaya]".
Ontem, De Boer explicou por que acha tão importante o Brasil aparecer logo com sua proposta. "O fato de os países em desenvolvimento saírem com metas ambiciosas é algo crítico para assegurar a participação ambiciosa dos países industrializados e vice-versa. Se uma metade se vai, você corre o risco de perder a outra também".
Folha de S. Paulo
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