Em sua canção Blowing in the Wind, Bob Dilan dizia, nos agitados anos 60, que as respostas a perguntas existenciais estariam sendo sopradas pelo vento. Filosofia à parte, no campo mais pragmático, a resposta para parte das perguntas sobre soberania e segurança energética brasileira está, literalmente, ao vento.
Com uma matriz elétrica tão fortemente ancorada em hidrelétricas o Brasil está sujeito a poucas fontes alternativas, em um ambiente de incertezas impostas pelas mudanças climáticas.
O WWF-Brasil vem propondo, desde 2006, com seu estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020, até de forma considerada conservadora, alternativas que poderiam ser adotadas até 2020, com o investimento adequado e vontade política: o uso da biomassa para produzir 7,6% da energia do país e energia eólica para suprir 6% da demanda. Isto reduziria o percentual do uso de energia hidrelétrica do país de 75% para 67,9%.
O que dizem os ventos – Entre os meios de produção de energia de forma limpa, renovável e de baixo impacto, a energia eólica destaca-se, no Brasil, como uma das mais promissoras entre as consideradas “não convencionais”.
O Atlas de Energia Elétrica do Brasil, publicado pela Agência Brasileira de Energia Elétrica, estabelece seu potencial de produção em 143,4 gigawatts (GW). Isto equivale a dez vezes a produção de Itaipu (14GW), que hoje é responsável por em torno de 20% do suprimento de energia elétrica do país – com variações sazonais.
Na Europa, onde a produção eólica teve seu tímido início há pouco mais de 30 anos, com sua primeira turbina ligada à rede pública instalada na Dinamarca, a energia eólica cresce, em termos de capacidade instalada, mais que as ditas convencionais (carvão, gás, nuclear, hidroelétricas), segundo a Associação Européia de Energia Eólica (Ewea, na sigla em inglês). No ano passado, 43% de todas as novas usinas elétricas instaladas no Velho Continente foram eólicas.
Já no Brasil, o primeiro projeto foi instalado na Ilha de Fernando de Noronhoa, em 1992, para substituir a produção à diesel. À época, a turbina gerava 10% de toda energia da Ilha, mas já representava uma economia de 70 mil litros de óleo por ano. Hoje, duas turbinas geram 25% da energia de Fernando de Noronha.
Atualmente, existem, no Brasil, segundo dados da Aneel, 36 empreendimentos de produção de energia eólica em operação no Brasil, com produção de 602.284 kW, ou 0,57% dos 105.853.740 kW produzidos pelos 2.138 empreendimentos em operação.
Existem outros 55 projetos em andamento, dos quais dez estão em construção e outros 45 foram outorgados entre 1998 e 2009, mas ainda não iniciaram a construção.
Incentivos e vantagens – Existe uma corrente de ceticismo (talvez até incentivada por setores concorrentes), em relação à produção de energia eólica. Seus principais críticos referem-se ao custo da instalação do equipamento, ainda muito alto, talvez por falta de escala.
Técnicos do WWF-Brasil concordam que a energia eólica é a mais cara, mas acreditam que a estrutura de preços pode tornar-se competitiva com incentivos fiscais, regulatórios etc.
Por outro lado, o Brasil tem algumas vantagens para as eólicas em relação a outros países, de acordo com o pesquisador Roberto Brandão, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico/Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ). Ele acredita que o país tem uma vocação expressiva para a produção de energia eólica nos próximos dez anos.
A primeira característica positiva é a possibilidade, a baixo custo, de alternar de forma imediata o fornecimento por outras fontes (como a hidrelétrica) nos períodos em que não houver vento para o equipamento.
“A produção de energia eólica é intermitente, em função dos ventos, o que obriga a um sistema de back up que garanta o fornecimento contínuo de energia”, explicou Brandão.
Em segundo lugar, o país já dispõe de uma rede de transmissão de energia a longa distância, pelas próprias características de sua matriz elétrica. “Estas são duas vantagens do Brasil na questão do custo de instalação e agregação da produção eólica ao sistema”, acredita o pesquisador.
Outra vantagem para o sistema no Brasil fica por conta dos caprichos da natureza: durante a época de estiagem, quando os reservatórios das hidrelétricas estão baixos é quando aumenta a intensidade dos ventos.
“As novas hidrelétricas não são mais construídas com grandes reservatórios. Portanto, não têm como estocar tanta água para a época das secas. Então, a complementaridade dos dois sistemas é uma enorme vantagem”, disse Roberto Brandão.
“Leilão é balão de ensaio”, diz pesquisador -- No próximo dia 14 de dezembro, o Brasil irá assistir ao seu primeiro Leilão de Energia Eólica. Devem ser comercializados cerca de 1.000MW, nas previsões da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Os leilões são os mecanismos estabelecidos pela União para a comercialização de energia no país, nos quais os empreendimentos que apresentarem o menor custo de geração saem vencedores.
Além de ter uma importância simbólica para o mercado e representar um aceno político do governo, às vésperas das negociações sobre o clima em Copenhague, o leilão pode ser um grande balão de ensaio para a indústria de equipamentos de produção de energia eólica.
É nisso que acredita Roberto Brandão. Segundo ele, a expectativa da indústria é ter uma indicação de mercado para planejamento futuro. “E acho este balão de ensaio importante. O governo nem precisa contratar muito. Se contratar 500MW a um preço baixo já é um indicador de como uma política industrial para o setor pode reduzir ainda mais o custo”, analisou Brandão.
© Patricia Buckley / WWF-CanadaO que é energia eólica? O termo eólico vem do latim aeolicus, pertencente ou relativo a Éolo, deus dos ventos na mitologia grega e, portanto, pertencente ou relativo ao vento (Wikipédia). Denomina-se energia eólica a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu aproveitamento ocorre por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas, também denominadas aerogeradores, para a geração de eletricidade, ou cataventos (e moinhos), para trabalhos mecânicos como bombeamento d’água (Aneel).
Fonte: Por Gadelha Neto e Mariana Ramos - WWF BRASIL.