As mudanças nos padrões de alimentação da sociedade moderna vêm
contribuindo para a chamada “invasão biológica” ou seja, o surgimento de
organismos em áreas onde não ocorriam.
As mudanças nos padrões de alimentação da sociedade moderna vêm
contribuindo para a chamada “invasão biológica” ou seja, o surgimento de
organismos em áreas onde não ocorriam. Define-se como invasão biológica
ou organismos invasores quaisquer microrganismos (invertebrados),
plantas e animais (vertebrados), introduzidos intencionalmente ou não,
em novos habitats, causando danos econômicos, sociais e ambientais tanto
nos diferentes ecossistemas como no setor sócio econômico de uma
região. O termo “espécies invasoras exóticas” é, também, sinônimo de
organismos invasores.
A entrada de um único organismo de efeito
daninho em uma região pode causar um colapso econômico de efeito social
devastador, em um país. Na história da humanidade, retrocedendo algumas
décadas, apesar dos relatos de invasões biológicas serem esparsos,
mostraram a seriedade do problema, seja na área humana, agrícola,
florestal ou ambiental.
Na área da saúde humana, exemplos que não
devem ser esquecidos, como a peste bubônica, causado pelo bacilo de
Yersin, Pasturella pestis e transmitida por pulgas que vivem em ratos
(Rattus rattus) se disseminou da região asiática para o norte da África,
Europa e China, matando na Idade Média, um terço da população desses
continentes; o vírus causador da varíola e do sarampo foi introduzido no
hemisfério ocidental através de colonizadores europeus que praticamente
dizimou os índios dos impérios asteca e inca. Além de outros como a
tuberculose, a lepra, vírus da influenza, gonorréia, são alguns poucos
exemplos a serem citados.
Na agricultura, a fome que assolou a Irlanda, em 1840, provocada pelo
fungo, Phytophtora infestans, que ataca a batata. Além dos prejuízos
causados aos agricultores da época, o maior agravante foi à perda de
vidas humanas pela fome com estimativas de um milhão de pessoas. Outras
(cerca de um milhão e meio) deixaram a Irlanda principalmente com
destino à América do Norte, as quais também padeceram pela introdução do
fungo naquela região. Outras espécies como as moscas das frutas,
pulgões, cancro cítrico, foram, igualmente, responsáveis por grandes
prejuízos em áreas agrícolas, citando alguns exemplos.
Entretanto,
se em algumas centenas de anos atrás, as chamadas barreiras naturais
formadas pelos oceanos, cordilheiras e florestas eram impedimentos da
dispersão rápida desses organismos, no momento atual, o aumento da
velocidade dos meios de transporte, do trânsito de bens de consumo e de
pessoas vem facilitando, cada vez mais, o estabelecimento e domínio dos
ecossistemas agrícolas, urbanos e naturais por diversas outras
espécies.
Recentemente, a entrada de Anoplophora glabripennis,
vulgarmente conhecido como besouro chinês e de Tonicus piniperda
(besouro dos brotos do pinheiro), nos Estados Unidos, ocasionaram perdas
econômicas superiores a US$ 10 milhões. Os danos ambientais provocados
pelo corte de árvores em praças públicas e áreas de produção florestal
são incalculáveis. Outras pragas como o mal-da-vaca louca, a gripe
asiática do frango, a febre aftosa, o besouro asiático, a doença do
carvalho, a dispersão do cancro cítrico e da mosca-branca, além de
causarem perdas e danos na agropecuária, também contribuem para a
formação de barreiras sanitárias ao comércio.
Numa busca para
solucionar esses problemas, as comunidades científicas de vários países
estabeleceram, em 1997, o Programa Global para Espécies Invasoras
(GISP). O GISP foi estabelecido para lidar com o problema das espécies
invasoras e dar suporte à implantação do Artigo 8(h) da Convenção da
Diversidade Biológica. Ele é operado por um consórcio entre o Comitê
Científico em Problemas Ambientais (SCOPE), CAB Internacional (CABI),
União Mundial de Conservação (IUCN), em parceria com o Programa
Ambiental das Nações Unidas (UNEP). Uma lista das cem piores espécies
invasoras do mundo foi elaborada pela IUCN, como forma de alertar os
países para a possível introdução de alguma dessas espécies.
Planta terrestre
Spathodea campanulata
Acácia mearnsii
Schinus terebinthifolius
Imperata cylindrica
Pinus pinaster
Opuntia stricta
Myrica faya
Arundo donax
Ulex europaeus
Hiptage benghalensis
Polygonum cuspidatum
Hedychium gardnerianum
Clidemia hirta
Pueraria Montana
Lantana camara
Euphorbia esula
Leucaena leucocephala
Melaleuca quinquenervia
Prosopis glandulosa
Miconia calvescens
Mikania micrantha
Mimosa pigra
Ligustrum robustum
Cecropia peltata
Lythrum salicaria
Cinchona pubescens
Ardisia elliptica
Chrmolaena odorata
Psidium cattleianum
Tamarix ramosissima
Wedelia trilobata
Rubus ellipticus
Planta aquática
Caulerpa taxifolia
Spartina anglica
Undaria pinnatifida
Eichhornia crassipes
Mamíferos
Trichosurus vulpecula
Felis catus
Capra hircus
Sciurus carolinensis
Macaca fascicularis
Mus musculus
Myocastor coypus
Sus scrofa
Oryctolagus cuniculus
Cervus elaphus
Vulpes vulpes
Rattus rattus
Herpestes javanicus
Mustela erminea
Pássaro
Acridotheres tristis
Pycnonotus cafer
Sturnus vulgaris
Microrganismo
Plasmodium relictum
Banana bunch top virus
Cryphonectria parasítica
Aphanomyces astaci
Ophiostoma ulmi
Batrachochytrium dendrobatidis
Phytophthora cinnamomi
Rinderpest virus
Invertebrados aquáticos
Eriocheir sinensis
Mnemiopsis leidyi
Carcinus maenas
Potamocorbula amurensis
Mytillus galloprovincialis
Asterias amurensis
Cercopagis pengoi
Dreissena polymorpha
Invertebrado terrestre
Linepithema humile
Anoplophora glabripennis
Aedes albopictus
Pheidole megacephala
Anopheles quadrimaculatus
Vespula vugaris
Anoplolepis gracilipes
Cinara cupressi
Platydemus manokwari
Coptotermes formosanus
Achatina fulica
Pomacea canaliculata
Lymantria dispar
Trogoderma granarium
Wasmannia auropunctata
Solenopsis invicta
Euglandina rósea
Peixe
Salmo trutta
Cyprinus carpio
Micropterus salmoides
Oreochromis mossambicus
Lates niloticus
Oncorhynchus mykiss
Clarias batrachus
Gambusia affinis
Réptil
Boiga irregularis
Trachemys scripta
Anfíbio
Rana catesbeiana
Bufo marinus
Eleutherodactylus coqui
Fonte:
Maria Regina Vilarinho de Oliveira
Pesquisadora, Doutora
e-mail: vilarinho@cenargen.embrapa.br
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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