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domingo, 1 de abril de 2012

Desastres ambientais exigem conexão dos centros de informação com a sociedade

Uma das consequências da falta de planejamento e da articulação entre os poderes públicos e a sociedade são os frequentes desastres ambientais.

Professor Antônio Edésio Jungles

Por Silvia Franz Marcuzzo - EcoAgência
Jogamos esgoto na água que vamos beber. Desde o Egito antigo sabemos que as áreas de risco não podem ser ocupadas. Pelo menos 40% da água tratada é desperdiçada por vazamentos ou mau uso. Apesar de se constatar tudo isso, a pressão sobre os recursos hídricos é cada vez maior. Essas e outras situações foram mostradas durante o II Fórum Internacional de Gestão Ambiental (Figa Ambiental) que terminou no dia 23 de março, na Assembleia Legislativa, em Porto Alegre.

Para o professor de hidrologia e drenagem Carlos Alberto Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o funcionamento da natureza, como o comportamento da água em desastres, não pode ser mudado, o ser humano é que precisa se adaptar às condições ambientais. “O que não é natural é a cidade crescer em áreas de risco”, argumentou. Tucci participou de um dos últimos painéis que abordou o tema central do encontro: "Água e Comunicação: Uma Relação Vital”.

Assim como ele que apresentou evidências sobre a má gestão e a escassez desse precioso líquido, especialistas de outros segmentos mostraram exemplos de bom aproveitamento. O professor e consultor sobre o assunto fez conexões do que significa a persistência em uma sucessão de erros, principalmente pela ausência de estratégias de governo para a conservação e o melhor aproveitamento da água. Ele explicou que o problema de seca no Rio Grande do Sul, por exemplo, é decorrência da falta de planejamento e de infraestrutura, uma questão que se torna mais complexa, principalmente devido ao agravamento do aquecimento global.

Tucci mostrou através de gráficos e tabelas que o clima está realmente mudando e o território gaúcho poderá se transformar um estado com boas condições para a produção de café, o que exigirá uma mudança significativa na sua cultura agrícola. O Estado terá que se adaptar às temperaturas mais elevadas.

Outra questão levantada pelo consultor é sobre a necessidade de não se impermeabilizar radicalmente o solo, principalmente nas cidades, onde já vive 50% da população mundial. A capacidade de escoamento da chuva é reduzida em seis vezes quando o chão está impedido de absorver a água, isto é, há uma probabilidade muito maior para alagamentos. Na chuvarada ocorrida em Porto Alegre, em março deste ano, caiu mais de 60 milímetros em uma hora, o que deixou boa parte da cidade debaixo d´água. Com a recorrência de intensas precipitações e o amplo asfaltamento das zonas urbanas o problema deverá se repetir.
E uma das questões mais intrigantes constatadas pelos participantes do evento é: se já se sabe que desastres e intempéries vão acontecer, por que o poder público não se prepara para evitar esses problemas? Segundo Tucci, as iniciativas para tentar amenizar esse quadro estão desconectadas, “no governo federal, há ações fragmentadas em cada ministério”. O contexto é abordado conforme a visão de cada área.

Desastres Ambientais
Uma das consequências da falta de planejamento e da articulação entre os poderes públicos e a sociedade são os frequentes desastres ambientais, como desmoronamentos, enchentes e deslizamentos. O professor Antônio Edésio Jungles, diretor do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas de Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina, confessou que antes de se envolver com esse tema, como a maior parte dos engenheiros, tinha uma visão mais tecnicista, não imaginava o que representavam os riscos ambientais.

No evento, comentou que depois de vivenciar uma articulação maior, com a criação do Plano Nacional para Gestão de Riscos, entende como é importante a transformação da informação em conhecimento. “É preciso levar soluções para a sociedade”, argumentou, salientando que o “conhecimento precisa ir além dos centros de pesquisa”. Jungles criticou a falta de cultura de não armazenar dados e registros de experiência, e também não transmitir o que isso pode significar para a sociedade.

Durante sua explanação no encontro promovido pela Associação Riograndense de Imprensa, assegurou que não estamos preparados para a vulnerabilidade. “Risco é sinônimo de insegurança, desastres é sinônimo de insustentabilidade”. A falta de um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos, por exemplo, é um exemplo de vulnerabilidade.

Ele ainda revelou preocupação em se valorizar mais os prejuízos financeiros com os desastres do que com as vítimas fatais e a situação das famílias enlutadas. Para ele, as comunidades precisam ser preparadas para enfrentar as situações de risco. E observou: “levei tempo para entender que sustentabilidade passa pela sustentabilidade das pessoas”.

Saiba mais em www.ceped.ufsc.br

FONTE:
EcoAgência

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